
Blaise Pascal construiu as probabilidades, mas as contas certas estão na matemática pascal.
1. Da humilhação à glorificação: ao longo do evangelho de Marcos, a tensão entre a expectativa dos homens e perspectiva de Deus não deixa de parte até os mais íntimos de Jesus. As multidões clamam por revolução, mas a resposta dos céus chega na contra-mão – o messias esperado viria de forma inesperada! Deu-se como servo sofredor em vez de gritar como um ditador. Provável?! Por isso, na sua humilhação somos chamado à glorificação – vamos?
2. Da cruz consumada à cruz continuada: nas palavras de Pedro no centro do evangelho (“Tu és o Cristo” Mc 8:29) lemos a verdade anunciada desde o começo (“Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” Mc 1:1). Pedro surge como o primeiro discípulo a reconhecer Jesus como o messias, para logo lhe confundir a missão com a vontade da nação. Quando Jesus prediz a sua morte, ele logo sugere um final diferente para a história. Mas em vez de encolher a cruz, Jesus amplia-a de tal modo que, em vez de exclusivamente sua, passaria a ser nossa! “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Mc 8:34)! Mais do que uma relíquia do passado, a cruz passaria a ser o dia-a-dia dos cristãos! Provável?! O perdão consumado na cruz abriu-nos a porta a uma vida de santificação com a cruz às costas – vamos?
3. Da vida abdicada à vida resgatada: Em Marcos, esta dinâmica repete-se três vezes antes da Páscoa – Jesus conversa com os discípulos sobre a sua partida (capítulos 8, 9 e 10), os discípulos “desconversam” (vale a pena ler nas entrelinhas do texto como tentam fugir à cruz) e a quadratura do círculo acontece de pernas para o ar (8:35, 9:35 e 10:45). Provável?! A matemática do evangelho não obedece à lógica cartesiana. Em vez de viver com medo de perder, Jesus mostra-nos que não tem medo de ser prejudicado quem já foi resgatado – vamos?
Texto de João Antunes